Os contos em "Eles Vivem" de Ray Nelson

Foto: Acervo Pessoal | @paragrafocult

 

Resolvi trazer um post sobre um dos melhores livros de contos de sci-fi que já li. A Editora Diário Macabro reuniu contos de ficção científica do autor Ray Nelson em uma obra que eu, sinceramente, me apaixonei. Não apenas pelo conteúdo mas também pela edição que está impecável. A capa bizarra, com cores vibrantes na capa dura, o título na frente tem uma textura meio 'lixa' e cada conto contém uma ilustração. Importante acrescentar que o tamanho da fonte também é bem digno, já que eu, como a boa cegueta que sou, sofro com edições de fonte pequena. 

Inédito aqui em terras tupiniquins, o livro conta com cinco contos do autor:

• Oito horas da manhã (1963)
• Viagem no tempo para pessoas ordinárias (1972)
• Quem é a Rainha Vermelha? (1976)
• Desligue o Céu (1963)
• Comida (1965)

O livro também traz um prefácio sobre um autor, além de curiosidades sobre cada um dos contos e as capas das coletâneas onde foram originalmente publicados.

Oito horas da manhã (1963)

O conto Oito horas da manhã foi adaptado pelo famoso diretor de terror John Carpenter em 1988 no filme "Eles Vivem". Tanto no conto quanto na adaptação, um homem percebe que os humanos estão sendo controlados através por alienígenas com uma cara bem bizarra. Apesar de algumas diferenças, como o famoso óculos escuro usado no filme que não tá presente no conto original, a base da história é a mesma. Toda a paranoia, a moral se tornando duvidosa e, claro, as criaturas grotescas. Quanto ao filme, é o puro suco de anos 80 com aquele toque especialmente trash e bizarro que só o John Carpenter tem. É pra amar ou odiar. Ouvi falar que a obra tem um quadrinho, já fiquei bem interessada em encontrar para ler também.

Viagem no tempo para pessoas ordinárias (1972)

O conto Viagem no tempo para pessoas ordinárias fez parte de uma seleção de contos censurados, o que não é tão surpreendente já que se inicia basicamente com dr0g4s e m*sturb4ç*o. Apesar do início pesado, é um dos contos mais interessantes. A narrativa onde um personagem passa por sua existência em diferentes épocas, tendo vivido muitas vidas como homem e como mulher é muito interessante e diferente. É possível levantar muitos debates apenas com ele, que usa do princípio de ser possível visitar vidas passadas através de pílulas. Achei muito criativo e interessante mas admito que de início eu não tinha curtido muito mas conforme o protagonista viaja através das suas vidas, fica cada vez melhor. O protagonista tem basicamente uma viagem de dr*g4s, se m*sturb4, transita entre o feminino e o masculino e questiona alguns dos dogmas cristãos. Definitivamente não é um conto para todos os leitores.

"O anjo estava rindo então, mas ele era escuro, enorme e monstruoso, e eu sabia que anjos e demônios eram, na verdadem a mesma coisa. Eles são anjos, se você estiver do lado deles, e demônios, se estiver do lado contrário."

Quem é a Rainha Vermelha? (1976)

Um funcionário e ex-paciente de um hospício, Eddie, fica chocado ao descobrir que uma das pacientes irá passar por uma lobotomia. A mulher desconhecida possui a pele estranhamente vermelha e não fala nada, ao menos não em um idioma que pudesse ser identificado. Fascinado com a mulher e receoso por vê-la passar por esse procedimento extremamente invasivo, ele resolve fugir do local com ela. Acho que um dos maiores pontos desse conto é justamente questionar a ética envolvendo os hospitais e como doenças mentais eram vistas pela sociedade da época. No geral, gostei dessa narrativa, da forma como em alguns momentos duvidamos até mesmo do Eddie e de sua própria sanidade mas foi um conto meio parado em comparação aos outros, que não me prendeu totalmente. 

Desligue o céu (1972)

O maior conto do livro e um dos mais complexos, tanto que admito uqe demorei um pouco a 'imergir' nele, devido a sua narrativa que se difere dos demais. Muitos diálogos e tensão, além de mais lentidão, não que isso seja algo ruim aqui. Abelard é um anarquista que através de uma simples frase "Gostaria de compartilhar do meu fardo?" tenta espalhar suas crenças. Quando conhece então a misteriora Reva, a misteriosa mulher o faz questionar toda a sua existência, tudo para desaparecer por um período, o deixando devastado. Aqui temos uma sociedade completamente manipulada, perdida e quase sem esperanças.

Comida (1965)

O menor conto nos leva pra junto do protagonista que se encontra perdido em um lugar inóspito. O astronauta a deriva do ambiente hostil, se vê de frente com lugares e criaturas assustadoras. É um conto totalmente desprovido de esperança e sobrevivência. Ele já sabe do seu destino mas se recusa a ser vencido. A história é realmente curtinha mas daria uma boa adaptação ou construção de enredo maior. 

Gostam de obras de ficção científica? Qual é a sua favorita?