3 Motivos para ler: "Vidas Secas" de Graciliano Ramos

Foto: Acervo Pessoal | @paragrafocult

Essa semana eu finalizei a leitura do pequeno mas profundo livro Vidas Secas e fiquei bem impactada. Por conta disso, trouxe alguns motivos que acho interessantes para convencer vocês a ler ou reler a obra. Espero que gostem. 

• ODISSEIA NORDESTINA: o livro conta a história de Fabiano, um retirante sertanejo e a sua família em meio a seca do nordeste. Sendo um homem desprovido de oportunidades, ele luta junto dos seus para sobreviver em meio as dificuldades que a vida lhe impõe e são muitas;

• OS FABIANOS ANÔNIMOS: o personagem é o espelho de muitos em nosso país. Sem muita inteligência, era incapaz de pensar com autonomia em muitos momentos da narrativa, não enxergando o quão explorado era pelos de maior poder e influência. O homem percebia algumas das injustiças mas com toda a sua inocência, não entendia como combatê-la, muitas vezes enxergando isso como um fardo que lhe pertencia por ser quem era, o que lhe fazia permanecer na mesma situação, principalmente porque sabia que tentar combater não resultaria em nada, já que vivia na pobreza;

• A SECA: vítimas da seca, Fabiano e a família viviam um dia de cada vez, focando apenas em sobreviver. Esse é o retrato triste de muitos, onde é a seca e os de poder quem ditam as regras. A narrativa mostra bem o quão cruel era a seca, com as aves matando os bois e cabras, a fome, a pobreza, o ambiente ficando vermelho com o calor e a dor e o medo que a ideia de uma nova seca trazia neles. 

Logo no início do livro, quando o próprio pensa sobre si "Você é um bicho, Fabiano.", já fiquei impactada. 

"— Fabiano, você é um homem — exclamou em voz alta. 

(...) E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. 

Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:

— Você é um bicho, Fabiano."

Foto: Acervo Pessoal | @paragrafocult

Perceber que o personagem se considera um animal por conta de toda a sua situação, é algo muito forte. Em diversos momentos ele se coloca nesse lugar por não se achar inteligente. Sabemos que inteligência é relativo, afinal, quando o assunto era cuidar do rebanho, Fabiano era muito eficiente. Porém, ele se considerava bicho por não ser conhecedor principalmente das palavras, da linguagem. Muitas vezes, quando enxerga a injustiça, ele trava sem saber como argumentar em sua própria defesa, ficando frustrado depois enquanto tolera o abuso que sobre, afinal, a sua sobrevivência e a da família é o mais importante. 

Outro ponto que me fez gostar da obra foi por conta da proximidade familiar. Meu avô materno quando vivo, saiu a pé de Arapiraca em Alagoas, em busca de algo melhor para ele e sua família. Algumas das situações narradas estão em histórias familiares que ele contava e isso mexeu comigo. 

O livro contém apenas 13 capítulos mas vale a leitura e é como um choque de realidade rápido porém necessário. Além de mostrar a importância da 'linguagem', algo que o próprio Fabiano sabe que lhe falta, mas que se possuísse, talvez conseguisse se sair melhor em sua jornada. É, com toda certeza, um clássico nacional que todo mundo deveria ler ao menos uma vez na vida.

Qual é seu clássico nacional favorito?