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Foto: Acervo Pessoal | @paragrafocult |
Páginas: 304
Autora: Monique Roffery
Editora: DarksideBooks
Ano: 2023
Tradução: Marcela Filizola
Gênero: Fantasia, Romance, Ficção
Classificação Indicativa: 16+
"Botou uma das mãos no coração, porque ele estava aos pulos no peito. As entranhas tremelicavam de desejo, medo e espanto, porque ele sabia o que tinha visto. Uma mulher. Bem ali, na água."
Aqui na obra, temos David Baptiste. Um pescador negro, jovem, com longos dreadlocks que gosta de passar seu tempo dedilhando seu violão na sua canoa chamada Simplicidade, enquanto repousa sobre as águas caribenhas da Ilha de Concha Negra, levando uma vida simples e tranquila. Um dia, após sair cedo para pescar, se põe a tocar o violão quando pouco depois, avista uma cabeça saindo das águas turvas para observá-lo, uma cabeça feminina de pele avermelhada como a dos indígenas e longos cabelos pretos repletos de cracas do mar e musgos, que flutuam ao seu redor como se tivessem vida própria.
A Ilha de Concha Negra possui muitos mitos, como o dos homens-sereia que vinham para a terra se reproduzir com as mulheres locais (me lembrou muito o nosso boto-cor-de-rosa), todavia, eram sempre tritões e não sereias, histórias de pescador que rodavam pela ilha há incontáveis tempos das quais ninguém levada muito a sério, contando em rodas de bar após o álcool subir no sangue.
"Uma hora se passou, talvez mais. O mar disse: Cuidado com o que pedem. Sou maior do que vocês. Levem apenas o necessário. Os homens ficaram, com toda franqueza, hipnotizados quando tudo aconteceu."
Encantado, David apelida a sereia de "dou dou" e passa a procurá-la, sempre com seu violão a tiracolo, já que imagina que foi a música que a atraiu. Sempre que sai ao mar, dedilha as cordas do violão e ela se põe a escutar ao longe. Apesar da demora, a aproximação acontece e toda vez que via o pequeno barco Simplicidade, ela se aproximava. Com medo das muitas embarcações locais, já que é uma ilha com muita pesca, David pressentiu o pior, principalmente quando Destemor, um barco cheio de homens brancos atraca na ilha.
Como disse antes, li poucas obras com sereias, pouquíssimas mesmo, então não sabia o que esperar. Amei a leitura e também passei muita raiva com alguns personagens. Aycayia, a sereia, quando inevitavelmente é capturada, mostra o pior lado possível dos homens, o que é bem triste e cru, forte de ler. Ela é uma criatura que desperta tanto nos homens quanto nas mulheres medo, desejo, curiosidade, paixão, raiva. Ela traz para a superfície o pior lado de todos, aqueles que geralmente deixamos escondidos da sociedade. Após a sua captura, Aycayia é pendurada de cabeça para baixo, como pescadores geralmente fazem com peixes grandes, na Baía da Desgraça enquanto é feita uma festa em comemoração a esse grande achado. Seu captor já enxerga sua vida mudada com o dinheiro que irá receber, seu filho se apaixona e planeja escrever poemas em sua homenagem, outros sentem nojo, tem quem queira ab*s4r dela para acalmar sua selvageria. Eles a tocam, ferem seu corpo com arpões enquanto ela luta para se ver livre. A cena é tão bem escrita que sufoca, já que a veem como um animal selvagem e não como um ser vivo pensante.
"Na verdade, eu já tinha sido cativado desde a primeira manhã que entoei minhas canções para ela. (...) Ela se levantou das ondas e me observou, e quando olhei de volta, sabia que tava olhando pro passado dessas ilhas e pra minha própria história como homem; ela tava me mostrando a droga do meu próprio eu. Ela veio para me reivindicar e me ensinar sobre a doação do meu coração, e do meu sexo, a ser mais completo do que eu tinha sido até então. Fiquei enrabichado por ela e com medo também, porque ela não virou sereia por acaso."
Ao saber da captura e da festa que está sendo feita no cais, David faz o possível para libertá-la, o que não é fácil, já que Aycayia com sua cauda são enormes, ela está ferida e claramente traumatizada após toda a dor que os homens a fizeram sentir, o que dificulta a aproximação do rapaz.
David cuida de seus machucados e assim tenta ganhar sua confiança. Gosto da descrição visual da sereia, não é algo belo e perfeito como vemos nos filmes infantis, ela é claramente um ser antigo que vive há séculos nas águas daquele mar, com a vida marinha se juntando ao seu corpo. Com o passar do tempo, Aycayia aprende a se comunicar através de sinais e isso foi bem legal de ler. Sua história de transformação é muito interessante, antiga e triste.
"A vida mudou rápido, rapaz. Nunca planejei isso. Mais tarde, vi que essa mudança veio como sempre vem, de uma cadeia de eventos com uma longa história, longa demais para ser vista do começo ao fim, até acontecer."
A história me prendeu muito mais do que pensei que iria, mesmo me despertando inúmeros sentimentos enquanto lia, não sendo um romance comum. Adorei conhecer mais sobre a cultura caribenha, a forma como a autora utilizou de sua escrita para fazer críticas sociais também foi muito boa, abordando colonização, racismo e questões ambientais. O final me deixou querendo saber mais, saber o que aconteceu depois. Fiquei fã e indico demais a obra.
Já leu alguma obra com sereias? Aceito indicações.
5 Comentários
Oi, Larissa! Como vai? Você tem razão: há, de fato, poucas obras dedicadas ao universo das sereias. Pessoalmente, considero a sereia a criatura fantástica que mais me fascina dentro desse imaginário tão rico. Fico muito feliz em saber que a leitura foi agradável para você. Creio, inclusive, que você já teve contato com uma de minhas obras, Magia no Mundo da Fantasia, que, aliás, traz uma sereia entre os personagens. Caso tenha interesse em conhecer outros livros meus, será um prazer compartilhá-los com você. Eu até tentei entrar em contato anteriormente, mas não localizei nenhum e-mail disponível por aqui. Você teria um endereço eletrônico para correspondência? Abraço!
ResponderExcluirOi, to bem e vc? O meu email é o larissa.patrocinio@outlook.com, é o que mais tenho usado mas deixo ali na aba 'CONTATO' ali em cima mas pode enviar para ele que te respondo. Tentei te achar no insta para mandar o whats, caso quisesse enviar mensagem mas não te achei rs
ExcluirOk. Lhe mandei o e-mail neste endereço que me informou. Amanhã estará gratuito muitas obras minhas na Amazon. É só você baixar diretamente em seu Kindle os livros que lhe interessar, ou se preferir todos eles.
ExcluirGostei da dica e li com atenção. Parece uma boa trama mesmo. Me deixou curioso pelo final
ResponderExcluirOi Larissa, tudo bem?
ResponderExcluirAdorei a resenha, especialmente por ser uma história bem diferente do que eu tô acostumada a ver por aí. Se tiver a oportunidade, com certeza darei uma chance. Apesar das descrições da tortura dele terem me revirado o estômago, a pluralidade cultural pareceu incrível.
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas