RESENHA | "O mundo depois de nós" de Rumaan Alam

Foto: Acervo Pessoal | Instagram @ParagrafoCult 

 Páginas: 288 | Autor: Rumaan Alam | Editora: Intrínseca | Ano: 2023 | Tradução: Alberto Flaskman | Gênero: Ficção, Distopia | Classificação Indicativa: 14+

Comecei a leitura super empolgada. O filme da Netflix tinha acabado de ser lançado e por isso eu queria muito ler para poder assistir porém infelizmente não tive uma experiência tão boa quanto imaginava que teria. 

Um casal junto de seus dois filhos viajam para passar alguns dias em uma pequena casa localizada "no meio do nada" a fim de terem alguns momentos em família. Enquanto aproveitam as suas férias do resto do mundo — o casal Clay e Amanda curtindo momentos de intimidade enquanto os filhos anseiam por mais momentos com amigos ou se afogando nas mamatas que a tecnologia oferece e que se tornam indisponíveis no local —, sua calmaria é abalada por um casal de idosos negros, G.H. e Ruth, que batem à sua porta em busca de abrigo. 


(...) as pessoas têm por hábito transformar qualquer coisa comum num pressentimento.


Impecavelmente vestidos e educados, os dois se dizem donos da casa que Clay e Amanda Sandford alugaram e pedem para entrar, já que estavam em um passeio que foi interrompido por um blecaute em plena cidade de Nova Iorque. Agora, sem saber o que está acontecendo com o mundo, precisam de um lugar seguro para ficar enquanto pensam no próximo passo. 

A narrativa do autor me causou um estranhamento enorme. A premissa é boa mas a narrativa não me conquistou. Logo de início eu a achei cansativa devido a detalhes ridiculamente detalhados porém acredito que a culpa é principalmente por conta dos personagens. Apesar de ser em terceira pessoa, o foco é enorme no jeito de pensar de cada um ali. Os Sandford são uma família típica de classe média. Clay é um pai tranquilão que apesar de querer bancar o papel de chefe da família, sabe que esse cargo é na verdade de Amanda. Inteligente e eficiente, a personagem em muitos momentos não passa de uma chata e isso se reflete na narrativa, deixando a mesma muito lenta e enrolada em diversos momentos.

— É a coisa certa a fazer.

Clay sabia que esse argumento iria funcionar; a esposa não achava importante fazer sempre a coisa moralmente certa, mas ser o tipo de pessoa que faria. A moralidade se resumia à vaidade, no fim das contas.

Uma coisa que gostei é que o autor trouxe muito bem a atmosfera de desconfiança e medo, por parte de Amanda com relação ao casal desconhecido que pede abrigo no meio da noite dizendo que houve um blecaute que ninguém consegue comprovar devido à falta de sinal, além de atitudes desesperadas em meio ao caos e momentos de pressão e incapacidade. Diversas atitudes tomadas por eles são bem críveis. 

Já que citei os personagens ali em cima, preciso me adentrar mais nisso. Fiquei surpresa de não ter me agradado com nenhum dos personagens da obra. Ruth e G. H., o casal dono da casa de veraneio são mais "simpáticos". Ruth é uma senhora séria e muito conservadora em tudo o que faz. Já G. H. ou George, apesar de seguir os moldes da esposa, é carismático e o mais próximo de um personagem gostável na trama, além de ser alguém claramente muito inteligente e manipulador. Meu problema mesmo foi com os Sandford. Clay é uma porta. Medroso e desesperado, tem momentos em que parece que vai agir mas apenas parece. Já Amanda é uma mãe leoa porém extremamente chata. Compreendemos algumas das suas desconfianças com relação a um casal aparecendo do nada em sua casa alugada querendo entrar e se dizendo ser dono dela, falando que o mundo está acabando mas você não tem como confirmar tal afirmação já que estão sem contato com o mundo exterior.

Nunca se sabe quando é a última vez, porque caso soubéssemos seria muito difícil tocar a vida.

Porém muito da desconfiança dela não vêm disso e sim por eles "não parecerem donos de uma casa tão bonita" por serem simplesmente negros. Os Washington são bem-sucedidos e ricos mas a personagem fica desconfiada principalmente por conta da cor da pele deles, por achar que não pareciam alguém que teria uma posse daquela. O pior é que ela mesma sabe que seu pensamento é errado mas permanece presa a ele por algum tempo antes de começar a mudar conforme seguem na convivência. 

G.H. deu uma risadinha. Era difícil não assumir o papel do vizinho simpático dos seriados de comédias. A televisão criava o contexto, e as pessoas negras tinham que jogar o jogo. Aquela casa, porém, lhe pertencia. Ele era o protagonista da história.

Ruth e George mesmo sendo idosos conservadores, são muito empáticos e isso me surpreendeu já que estava cansada de Amanda e Clay, o que tornou os dois os personagens que mais me agradaram no livro. Sentem uma clara falta da filha que é mãe e mora longe e sentem empatia pela preocupação de Amanda e Clay com seus filhos e a situação em si.

Toda a história se passa praticamente dentro da casa isolada da família Washington. Acredito que o ambiente no meio do nada, junto de pessoas tão reais que chegam a irritar o leitor e inseridos em um cenário que vai gradativamente se tornando caótico e fazendo com que todos saiam de suas zonas de conforto, sendo forçados a coexistir é o que torna a história interessante. Em diversos momentos, até mesmo alguns menos queridos dos personagens, se formos realistas, seremos capazes de notar que nós ou alguém próximo facilmente tomaria tais decisões quando sob pressão ou desespero, ainda mais ao se ver preso em um local que era para ser fonte de diversão e paz mas que se torna quase que uma prisão. 

Em outras palavras: o mundo tinha acabado, então por que não dançar? A manhã viria, então por que não dormir? Um fim era inevitável, então por que não beber, comer e aproveitar o momento, independentemente do que estivesse acontecendo?

Admito que esperava mais da leitura, assim como do filme que está disponível na Netflix. Acredito que a obra funcionou melhor em tela porém ainda sim não foi algo que me prendeu totalmente.

Nota: ★☆☆

Já assistiram ao filme ou leram ao livro? Gostam de obras com distópicas?

Me conta o que achou!

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2 Comentários

  1. Achei o filme divertido. E a mensagem é séria: tempos sombrios estão próximos. Um filme que toca em "preparação", sobrevivencialismo e temas relacionados. A teoria da conspiração de ontem é o "novo normal" de amanhã.
    Ruth, no filme, é uma guria chata, cheia de si, arrogante, insuportável. Legal saber ser totalmente diversa essa personagem no livro!
    Abraços

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  2. Oie Lari! Tudo bem??

    Não conhecia esse livro, mas achei lindissima a capa
    pena que a premissa acaba não conquistando tanto :(

    Eu gosto de distopia e aliás, faz um bom tempo que não leio nada delas!

    beijos
    Pâm
    Blog Interrupted Dreamer

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