RESENHA | "O FANTASMA DA ÓPERA" de Gaston Leroux

 Editora: Principis  |  Páginas: 320  |  Ano: 2020  |  Gênero: Romance, Literatura Gótica, Terror

... in sleep he sang to me, in dreams he came ...

Sou apaixonada por clássicos da literatura gótica e musicais, então não é nenhuma novidade que O Fantasma da Ópera já era um dos meus musicais favoritos da vida há um bom tempo. Porém apesar de amar as canções como Masquerade e a canção-título, ou toda a ambientação das adaptações, nunca havia parado para ler o livro de algo que eu tanto gostava. Até que recentemente fui entrar para dar uma olhada em uma livraria nova que abriu aqui na região e encontrei o livro, que nunca nem ao menos havia passado pela minha cabeça dar uma chance para a leitura. Comprei super empolgada e estou aqui, mega feliz já que senti que realmente a leitura valeu muito a pena. 

"Mas quem o teria visto de fato? Pode-se encontrar tantas vestes pretas na Ópera que não são fantasmas. Mas aquela veste tinha uma particularidade que as outras vestes pretas não têm: ela vestia um esqueleto."

Toda a narrativa da obra é bem interessante. Um jornalista está contando os fatos curiosos que aconteceram, envolvendo um tal "Fantasma da Ópera", figura misteriosa que aterrorizava o lugar. Tudo é narrado em um tom de investigação jornalística e é como se o narrador estivesse batendo um papo com você, te contando tudo o que aconteceu. 

O foco da história fica no triângulo amoroso entre Christine Daaé, uma cantora lírica muito talentosa porém ainda desconhecida, Raoul Chagny, seu amigo de infância e primeiro amor e Erik ou o Fantasma, que mora nas catacumbas de Paris, devido a sua aparência. Talvez para alguns a leitura demore a entrar no ritmo já que o começo da obra pode ser bem lento por nos introduzir não apenas o clima da Ópera como também os personagens e até mesmo O Fantasma, sem contar que obras de literatura gótica costumam ter um desenrolar mais arrastado em alguns momentos, o que não agrada alguns tipos de leitores. 

"Ele não pronunciou uma só palavra, e seus vizinhos não seriam capazes de dizer qual foi o exato momento em que ele veio se sentar ali, mas todos pensavam que, se os mortos vinham às vezes se sentar à mesa dos vivos, mesmo eles não tinham uma aparência tão macabra."

Quando o pai de Christine Daaé ainda era vivo, sempre lhe contava histórias sobre um tal Anjo da Música que aparecia para os músicos, os guiando para se tornarem grandes. Quando seu pai morre, o Fantasma aparece para ela como tal Anjo e a moça ingênua aceita, se tornando sua pupila. O problema é que com toda a beleza e ingenuidade da moça, o Fantasma acaba se apaixonando e declara que ela é apenas dele. 

Nunca fui muito fã do personagem do Raoul e o livro só fez eu gostar ainda menos dele por conta do seu jeito. Na obra, o jovem de vinte anos é ainda mais irritante. Rico e bonito, além de completamente apaixonado por Christine, ele insiste e tenta incansavelmente conquistar sua amada, o que faz com que ele tenha crises de ciúmes ao saber da existência do Fantasma e questionar-se várias vezes se o amor que sente é recíproco. Para ele, parece ser inconcebível que Christine não o ame também. O personagem também tem mais destaque no livro, o que me surpreendeu já que nas adaptações ele é um pouco esquecido.

"Tua alma é bela, minha criança, e eu lhe agradeço. Não há imperador que tenha recebido tamanho presente! Os anjos choram esta noite."

Por conta da época em que a obra foi escrita, alguns temas podem ser considerados bem datados, como Raoul e seu amor e entrega completamente cegos, por exemplo, e Christine, a típica mocinha inocente dos romances (apesar de que me surpreendeu notar que no livro ela tem mais "voz" do que nas adaptações onde ela é beeeeem passiva com tudo em diversos momentos).

O livro te prende não por causa do romance em si que pode ser cansativo e piegas e sim por todo o mistério que envolve o Fantasma. Ele é um homem deformado (esqueça aquela máscara branca clássica que cobre apenas a metade do rosto de um homem belo), suas feições são cadavéricas e essa é a razão pela qual ele se esconde já que foi rejeitado por todos. Mesmo sendo um gênio da música, a sociedade não aceitaria alguém com tal aparência. Erik não é um mocinho. Ele é violento e agressivo, controlador e muitas vezes tóxico porém o personagem consegue te cativar mais do que qualquer outro na obra por conta de sua história triste. 

"Há momentos em que a grande inocência parece tão monstruosa que se torna odiosa."

Após a leitura, só consigo ter ainda mais certeza de que é uma das minhas obras favoritas porém ficou ainda mais óbvio para mim que o único ponto fraco da trama é o romance em si mesmo que isso provavelmente se deve a época em que a obra foi escrita. O Fantasma da Ópera é um romance trágico e tocante, violento e regado de mistério que os amantes do gênero com toda a certeza vão amar. 

Tenho amado cada vez mais as edições da Editora Principis. São mais simples do que as outras mas valem muito a pena, principalmente pelo custo benefício da obra. Não vi nenhum errinho sequer, a fonte tem um tamanho bem digno e eu senti que finalizei muito bem as minhas leituras de 2020.

Você conhecia O Fantasma da Ópera? 

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5 Comentários

  1. Oi, Larissa. Como vai? Primeiramente feliz 2021 para você. Eu sou louco para ler este livro, mas ainda não tive oportunidade. Quem sabe eu consiga lê-lo neste ano que se inicia. Que bom que o livro lhe agradou. Sua resenha ficou ótima. Abraço!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Olá,
    Acredita que conheço a fama que a história tem, mas nunca havia pensado em ler ou mesmo assistir até agora. Gostei muito da sua resenha e fico feliz que a leitura te agradou tanto quanto esperava. Nada mais triste que não atingir nossas expectativas.

    Beijo!
    www.amorpelaspaginas.com

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  3. Amei a resenha, tenha muita vontade de ler esse livro.

    Beijinhos, feliz 2021
    Renata

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  4. Achei que o livro tem uns pontos bem machistas, coitada da cantora lírica, um namorado de infância egocêntrico, e um fantasma que acredita ser dono dela. Ainda bem que ela é menos passiva no livro, mas é o que você disse na resenha, alguns temas podem ser bem datados, e ao ler um clássico é necessário entender a época em que foi escrito e quando a obra se passa.
    Quando possível vou conferir esse livro, pois gosto desses romances trágicos, além disso, ainda não assisti nem as adaptações, então a leitura pra mim será de tudo, inédita.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

    Ps. Se possível, peço que me ajude respondendo a pesquisa de público do blog.

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  5. Olá, Larissa.

    Está alimentando o blogue. Isso é bom. Pulei a resenha do romance LGTB porque acredito que não me interessaria. Se bem que Brokeback Mountain é um dos melhores filmes já vistos por mim...

    Como falei antes, resenhas em Instagram vieram para ficar. Estamos na era dos dispositivos móveis e parece mais cômodo ver tudo por aplicativos comuns. São mini blogues literários. Mas não gosto tanto. Letra pequena e para digitar é horrível. Mas tem maior espaço do que blogues. Além disso, seu blogue é muito bonito.

    Tenho vontade de ler este romance. Que legal você tê-lo comprado. E o mais fascinante: numa livraria física que abriu em seu bairro? São lojas em extinção. Sucesso a mesma. Hoje em dia, a maioria só se sustenta com cafeteria e papelaria, lojinhas de presentes etc.

    Pelas descrições, é tudo mesmo datado. Mas penso que as concepções humanas caricatas é que eram datadas. No fundo, não acredito que existiam homens cegos de amores e moçoilas ingênuas. rs

    Abraços!

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