RESENHA | "CAÇADA ÀS ESTRELAS DA NOITE" de Yasmim Mahmud Kader

Editora: PolkaMeow Editores  |  Páginas: 526  |  Ano: 2018  |  Gênero: Aventura, Fantasia e Romance

"Arranque as lembranças de alguém e destruirá seu coração. Porque não se pode viver sem elas, não se pode viver sem um passado."

O céu já foi repleto de estrelas mas agora uma escuridão toma conta dele, onde apenas duas estrelas brilham. As Estrelas da Noite, fêmeas de dragões, foram exterminadas até beirarem a extinção. 

Yanaamahka é uma fêmea de dragão que só se lembra da escuridão onde ficara presa por muitos anos e que finalmente conseguiu ver a luz. Ao fugir, ela se vê perdida. Não só por não conhecer nada do lugar onde está mas também por ter encontrado pessoas não muito agradáveis em seu caminho. Yanaa não tem nenhuma lembrança de seu passado, apenas a dor de ser prisioneira, além de ser uma das duas últimas Estrelas da Noite. Ela precisa encontrar suas memórias, a si mesma e um lugar seguro já que está constantemente entrando no caminho de homens perigosos, principalmente o ceifador Leto Demétrius. 

"Porque embora não tivesse certeza, seus instintos sussurravam: o mundo é grande, e sempre há um lugar para todos. Até mesmo para os perdidos."

Já Lunaysis é uma jovem que sofreu o infortúnio de nascer como uma draconiana. Apesar de ser de uma família rica considerada pura e influente, o povo draconiano é extremamente patriarcal, violento e conservador. Ela acabara de se casar após ser vendida pelo pai ao seu atual marido que parece ter interesse apenas em seu nome e em um herdeiro. O problema é que Luna é uma "mulher amaldiçoada", nasceu com a essência de uma das três deusas e precisa esconder isso para proteger o bebê em sua barriga, afinal, as mulheres amaldiçoadas são mortas sempre que descobertas já que os draconianos temem tal poder desconhecido e ela tem gravado em sua memória a forma como mulheres assim são tratadas, após presenciar sua ama ser queimada na fogueira ainda grávida por ser uma delas. 

"A leitura lhe deu asas e ela voou sobre o mundo. Liberdade."

Em muitos momentos, a leitura desse livro me causou uma aflição enorme. As duas personagens são completamente diferentes em si mas ao mesmo tempo muito similares já que ambas são caçadas apenas por serem quem são e é justamente por isso que é muito difícil confiar em qualquer um que se aproxima delas no desenrolar da história. Das duas, Yanaa foi a personagem que conseguiu me prender mais e ao mesmo tempo me irritar (isso aconteceu com Luna também mas mais com a Yanaa), apesar disso ser bem compreensível. Por ter experimentado apenas a dor não apenas física como também a de ter sido esquecida, ela é muito rancorosa, teimosa, nervosa e extremamente desconfiada. Isso é mais do que justificável afinal ela passou por situações bem pesadas no decorrer da história. Tanto Yanaa quanto Luna querem ser livres à sua forma mas para conseguirem isso, precisam enfrentar muita coisa. 

"Não podemos brincar com os mortos, não podemos... abraçar os mortos"

Admito que no começo da leitura fiquei um pouco perdida. São muitos personagens apresentados e por isso demorei um pouco até conseguir diferenciar quem era quem ali mas quando isso aconteceu, a leitura fluiu bem rápido, principalmente porque a escrita da autora é bem agradável. A história deixou algumas pontas soltas para os próximos livros e admito que estou bem curiosa para saber como algumas coisas irão se desenvolver e o desfecho dos personagens. É o tipo de trama onde você consegue amar e odiar muitos dos personagens ao mesmo tempo e eu particularmente gosto disso em uma obra. 

Outros personagens como Rhenna, Tiggre e até mesmo Leto Demétrius, o ceifador, acabaram por deixar tudo ainda melhor. Inclusive, sobre o Leto, tenho que dizer que apesar dele ser algo como um vilão da trama (mas não é o único obstáculo ali) e de ter me enojado em muitos momentos com suas falas e ações, eu gostei muito do personagem. Não por quem ele é, já que está bem longe de ser uma boa pessoa, mas a forma como foi mostrado e desenvolvido fez com que só a menção dele não deixasse só os personagens apreensivos, como eu também. Ele aparecia e eu ficava "Ihhhhhh, corre!". No começo, botei a mão na consciência e me perguntei porque gostava tanto do personagem. Imagino que ele vá ser mais desenvolvido nos próximos livros e aguardo ansiosamente por isso, até porque mesmo suas atitudes sendo terríveis, não foi o personagem que mais odiei no livro. Para se ter uma ideia, ele não está nem no meu "Top 3" dos mais odiáveis.

"Viver no esquecimento era pior do que morrer para a Estrela da Noite, era como caminhar sobre um mundo cheio de cores e ver somente as cinzas."

O universo criado pela autora é bem detalhado e rico. A história dos dragões e toda a crueldade do povo draconiano me deixaram angustiada em muitos momentos então por conta disso, já fica um aviso aqui: o livro além de ter muitos momentos de violência explícita, principalmente em relação as mulheres, tem alguns gatilhos. Isso não afetou a minha leitura mas sei que pode incomodar alguns leitores. 

Estou bem curiosa para saber como tanto a Luna quanto a Yanaa vão ser desenvolvidas nos próximos livros, assim como outros personagens. Também estou louca para saber do desfecho de tudo. Foi uma das minhas melhores leituras nacionais. 

Leitura feita em parceria mas o Parágrafo Cult se reserva no direito de postar a sua opinião em relação a obra.