RESENHA | "GUERRA SEM FIM" de Joe Haldeman

Foto: Larissa | Parágrafo Cult
Editora: Aleph  |  Páginas: 354  |  Ano: 2019  |  Gênero: Ficção Científica
Sinopse: Quando a humanidade faz o primeiro contato com uma raça extraterrestre, um movimento hostil causa o início de uma guerra espacial que durará séculos. William Mandella, um jovem norte-americano, está entre os primeiros soldados convocados no alistamento obrigatório. Na guerra ele aprenderá a manusear máquinas mortíferas mais modernas e a sobreviver aos horrores da guerra, em um constante exercício de questionamento sobre seus reais inimigos. A possibilidade de voltar para casa não é uma esperança e nem um alento: devido a dilatação temporal envolvida nas viagens espaciais, os soldados que passaram poucos meses no espaço descobrem , ao retornar à Terra, que lá a passagem de tempo foi de décadas ou até de séculos. Inspirado na experiência de Joe Haldeman na Guerra do Vietnã, Guerra sem Fim se tornou um clássico da ficção-científica militar e recebeu os prêmios Hugo, Nebula e Locus. Além de registrar, em uma metáfora cruel, a realidade de uma geração que vivenciou a Guerra do Vietnã nos anos 60, Haldeman também abordou temas universais e atemporais, como ufanismo, solidão, e as contradições da guerra.

Devo começar essa resenha dizendo que nunca tive o costume de ler livros sobre guerras. Por mais que ache o tema interessante, pegar uma obra que tenha essa temática como principal nunca me ocorreu. Ao menos não até ganhar esse livro no meu aniversário. Já tinha ouvido comentarem sobre a obra mas ela não havia me chamado atenção até aquele momento. Estou numa fase onde ficções-científicas e distopias tem me interessado bastante então dos livros que ganhei, foi o primeiro que li.

" - Esta noite mostraremos oito maneiras de matar um homem de maneira furtiva."

É uma leitura um pouco complicada, de início. Acho que isso se deve ao fato de eu não ser acostumada com o gênero. Aqui, William Mandella, o narrador, é convocado para a guerra. Formado em Física, ele não está ali por sua vontade. Antes do livro, já somos apresentados ao fato de que o autor, Joe Haldeman, é um veterano de guerra e também formado em Física. Ao saber disso, podemos perceber desde o início da narrativa o quanto o autor usou de sua experiência para escrever o livro, mudando o cenário em que lutara - o Vietnã - para uma guerra espacial contra uma raça conhecida como taurianos.

Não nos é dito qual é o motivo da guerra. Nem mesmo Mandella sabe qual é a razão para ele e outros jovens estarem ali em um treinamento perigoso para lutar contra tal raça. Nas primeiras frases do livro, está sendo ensinado a William e seus companheiros várias formas de se matar um homem. Garotos jovens, que acabaram de sair do colegial ou de se formar estão ali, em pleno espaço e correndo risco de vida para lutarem em uma guerra que nem ao menos sabem o motivo.

"Eu sentia asco da raça humana, do exército, e estava horrorizado com a perspectiva de conviver comigo mesmo por mais outro século... Bem, havia sempre a opção de lavagem cerebral."

E o autor não poupa palavras para nos mostrar através dos olhos de William, o quão perigoso é aquele cenário. Muitos morrem durante a trajetória do jovem que através das páginas, vai subindo de posto. Através do salto colapsar, é possível então que eles possam viajar através do tempo e espaço para lutarem suas batalhas contra os taurianos. O único problema é que alguns meses no espaço é o mesmo que anos na Terra, então quando é mandado de volta para "casa", tudo mudou. As coisas já não são mais as mesmas. A guerra, mesmo ocorrendo no espaço, impactou toda a terra de uma forma devastadora, principalmente em questão econômica, tanto que em vários momentos é deixado bem claro que se a guerra acabasse, tudo poderia desmoronar já que era ela que mantinha o dinheiro em circulação. Ao menos para alguns, já que tudo parecia inundado na pobreza. A homossexualidade é agora incentivada pelo governo devido ao crescimento populacional desenfreado. 

"Nos poucos momentos em que fiquei acordado após finalmente me deitar, o pensamento de que a próxima vez que eu fechasse os olhos pudesse ser a última veio à minha mente. E em parte por conta da ressaca da droga mas sobretudo por causa dos horrores do dia anterior. Eu me dei conta de que não estava nem aí."

Portanto, ele já não se sente mais em casa, não consegue mais se encaixar no ambiente que tanto sentiu falta. A guerra mudara William tanto mas até aquele momento, ele não tinha percebido. Voltara para casa pretendendo finalmente seguir a profissão na qual se formara mas viu que seria impossível. Até que um infeliz acidente ocorre e ele percebe que já não pertence mais ali, voltando para servir na guerra, dessa vez, por opção própria. É triste quando ele percebe que ali no espaço e em meio a uma guerra, ele se sentia mais em casa do que na terra.

"A vida é um monte de células que andam por aí com um propósito em comum."

Mas, claro que tenho que comentar sobre algo gera muita polêmica em relação a obra. Guerra sem Fim é um livro que foi publicado pela primeira vez em 1974, portanto tem algumas passagens homofóbicas e machistas e isso pode incomodar alguns leitores. Nessa edição, o próprio autor fez um prefácio se desculpando e falando que aquela era sua visão há muitos anos atrás, algo que ele já não concorda mais e se desculpa. Eu não me incomodei tanto quanto imaginei que iria porque sabia que o livro era uma obra antiga e antes de iniciar a leitura, havia lido o comentário do autor sobre então já estava preparada. William era um jovem hétero, com mente bem fechada, moldado em uma sociedade completamente diferente. Portanto, quando volta para a terra no "futuro", onde a homossexualidade era vista como algo normal - o que na sua época não era tido como normal e muito menos era incentivado - ele então teve dificuldades para aceitar isso, porém aos poucos sua visão vai mudando mas não espere muito do personagem. Caso inicie a leitura, já vá com isso em mente e acredito que não se incomodará tanto. Infelizmente esse foi um dos poucos pontos fracos do livro, ao meu ver, junto de algumas passagens machistas. Vi que muita gente se incomodou de verdade com isso de forma que atrapalhou sua leitura. Não sei se foi porque eu já tinha ido sabendo o que esperar, não foi um baque tão grande assim para mim, apesar de ter me incomodado sim.

"O mundo era diferente na época em que escrevi o livro, e eu era uma pessoa diferente. Falar com essa pessoa, ou interrogá-la, não é uma tarefa fácil. Poderíamos dizer que as coisas são como são, mas neste caso "as coisas" duram um livro inteiro, ou talvez uma biblioteca inteira. Eu tenho amigos gays, é claro, e já os tinha na época em que Guerra sem fim foi publicado. Nunca foi minha intenção ser injusto com eles ou desumanizá-los - mas foi exatamente o que eu fiz, mesmo que tivesse a melhor das intenções. Como todo o mundo hétero faz, e fazia cinquenta anos atrás."
Nota do autor à edição brasileira em 2018 presente na introdução do livro.

Senti um pouco de falta de um certo aprofundamento dos personagens e acho que isso se deve ao fato de que toda a narrativa é feita através de William e ele tem uma visão muito limitada o que fez com que muitos dos personagens soassem caricatos ou estereotipados. William não é um cara forte ou um super soldado, tinha muitos dilemas e passou por muita coisa na guerra mas é realmente difícil de se sentir próximo dele por conta de seus pontos de vista preconceituosos que dão as caras em vários momentos e sua cabeça dura para aceitar certas coisas ou mostrar um pouco de opinião. Momentos esses que fizeram com que eu tivesse que travar em minha mente uma guerra de amor e ódio para com a obra, que só não foi MUITO BOA ao meu ver, por conta dessas partes. 

Estando em um dos primeiros grupos de soldados convocados, William perdeu muitos amigos, viu muitos outros se ferirem gravemente, inclusive ele mesmo. O livro trouxe em suas páginas um retrato bem cru sobre a guerra da qual um paralelo claro é feito com a realidade do Vietnã em que o autor viveu.

"Aquilo não era apenas uma separação. Mesmo que a guerra terminasse e voltássemos para a Terra com alguns minutos de diferença, em naves diferentes, a geometria dos saltos colapsares acumularia entre nós. Quando o outro chegasse à Terra, seu parceiro seria provavelmente meio século mais velho e mais provavelmente, estaria morto."

Com exceção dos trechos onde o narrador explicava através da física a lógica dos saltos colapsares e etc, não tive nenhuma dificuldade de entendimento. Porém sou uma negação quando o assunto é física então isso não me surpreende, mas o estranhamento ocorreu apenas no início da narrativa.

Ao meu ponto de vista, para quem é fã do gênero de ficção-científica, o livro vai lhe ser uma ótima obra da qual, como leitor, vai mergulhar na guerra ao lado de William, mas já vai se preparado para tais partes que podem te dar um certo incômodo. No geral, é um bom livro, vale a leitura. Gostei bastante do final e achei que tanto a capa, quanto a diagramação ficaram bem bonitas. 

Nota: 3,5 / 5,0

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23 Comentários

  1. Oi, Larissa tudo bem? Eu particularmente gosto de ler ficção científica, embora neste início de 2020 eu esteja me aventurando em ler mais outros gêneros. Livros sobre guerra quase sempre são pesados de serem lidos, por causa da alta carga de dramaticidade que um livro assim possui, no entanto este aí me parece ser um pouco menos denso, até pela falta de aprofundamento dos personagens que você mencionou na resenha. De todo modo me parece ser um bom livro de ser lido e eu gostei da dica. Não li nenhum livro deste autor, então fiquei curioso por conhecer. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Oi Larissa,
    Ixi, não acho que esse livro seja para mim.
    Não sou uma pessoa que lê facilmente ficção cientifica, até acredito em extra-terrestres mas na leitura, esse tipo de coisa, não me prende, infelizmente.
    beijo
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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  3. Hey Larissa! Tudo bem?
    Eu tbm não sou acostumada a ler livros com essa temática e acho que teria muitas dificuldades nas partes em que se utiliza física. Mas ainda assim concordo com vc que deva ser uma excelente leitura. Adorei a resenha.
    Obrigada por comentar lá no blog.
    Volte sempre!

    | Blog Misto Quente |

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  4. Olá, Larissa.
    Eu estou acostumada a ler sobre guerras, mas livros de romance e drama, não desse gênero. Mas achei o enredo interessante e se der vou ler ele. Sobre as polemicas da época, eu acho isso uma coisa bem injusta com alguns autores. Era a situação em que eles vivam então não temos que condenar. Vai saber daqui a alguns anos se nós não seremos os julgados e condenados.

    Prefácio

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  5. Oi, Larissa. Tudo bem?
    Já conversei com outras pessoas de como o protagonista é irritante nesse livro e o preconceito dele realmente atrapalha a leitura fluir, mas uma parte que acho muito interessante no livro é como ele retrata as coisas perdendo sentido ao longo da guerra.

    Beijos, Vanessa
    Leia Pop

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  6. Oi Larissa.
    Eu li esse livro há centenas de anos atrás. E lembro que não curti muito na época. E confesso que não tenho vontade de pegar para ler novamente. Que bom que no seu caso foi uma boa leitura. Ótima resenha.
    Bjus

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  7. Oi Lari!
    Como eu vi a resenha la no insta, eu reforço que nao sei se lido bem com livros que tem pensamentos retrógrados, mesmo que seja de uma epoca marcada. E complicado lidar. Mas e otimo saber que o desenvolvimento e bem executado. Geralmente quando o autor tem experiencia da situação que escreve, facilita o leitor. Senti isso quando li Tartarugas ate la embaixo do Jao Verde.

    Abraços
    Emerson
    http://territoriogeeknerd.blogspot.com/

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  8. Oi Lari, tudo bem?
    Não conhecia o livro, mas lendo sua resenha ele me lembrou muito o ótimo Nada de Novo no Front.
    É um livro cujo autor também fez parte da guerra (no caso, a Primeira Guerra) e ele narra essas mesmas coisas: os jovens não entendendo pelo quê lutam quando veem de perto os horrores da guerra, o sentimento de estar deslocado quando volta pra casa, o retorno às trincheiras... É bem intenso. Fica a dica, se quiser se aventurar de novo pelo estilo!
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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  9. Olá! Já passei por essa capa em livrarias e fiquei curiosa, lendo alguns quots aqui e sua resenha fiquei mais curiosa ainda e com vontade de ler. Quero logo ler em breve.
    Beijocas.

    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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  10. Amei sua resenha, Larissa. Confesso que fico dividida com esse tipo de história, mas no fim acabo lendo e gostando! ❤

    https://www.kailagarcia.com

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  11. Eu amo ficção e essa coisa de "existe algo lá fora", acho que daria uma chance pra esse livro. É muiti bom saber que o autor se retratou e pode mudar os pensamentos com o tempo
    Beijos
    www.dearlytay.com.br

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  12. Confesso que também não é o tipo de leitura que estou acostumada e num primeiro momento não o escolheria. Gostei da resenha e de saber a sua opinião sobre o livro :)

    Voltei das minhas férias, então vem deixar um comentário na nova postagem :) Vou adorar!

    https://www.biigthais.com/

    Beijoos ;*

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  13. Assim como vc eu também achei a capa do livro bem bonita. E apesar da homofobia e machismo, o livro realmente me chamou a atenção. Confesso que não me lembro de ter lido pelo menos um livro do gênero, mas a base desse eu gostei bastante. Sei que também vou ter dificuldades em entender sobre física, haha. Mas futuramente pretendo ler esse livro.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

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  14. Eu fiquei interessada na leitura a partir do momento que você comentou que não conseguia parar de ler kkk. A Aleph arrasou na edição!!

    Beijos

    Imersão Literária

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  15. É normal nos encontrarmos em fases de leitura. Já tive minhas fases também.

    Desconhecia esta obra e seu autor. Olha, me pareceu que você não gostou de muita coisa mesmo no romance. Mas, ao menos, deixou claro que o gênero não lhe é familiar. Eu achei interessante.

    Ao ler sua resenha, fiz uma breve pesquisa e constatei que, no meio sci-fi, é uma grande obra.

    Acho que darei uma chance a esta leitura, embora não goste do sobrenome do protagonista.

    Abraços!

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  16. Olá, Larissa!
    Gostei muito do que li, apesar de não ser fã de ficção cientifica. Mas se gostaste e, se foi uma boa leitura, é que é importante :)
    Beijinhos



    http://tudosoblinhas.blogspot.com

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  17. Saudades de vc, Larissa.
    Tinha desaparecido.
    E que tenha sido por trabalho, muito trabalho.
    Trabalho faz bem, eu acho.

    Não é meu estilo de leitura.
    Li um livro lindo de João Anzanello Carrascoza (Elegia do irmão).

    E leio as cartas de Machado de Assis.
    Bjs,

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  18. Nossa, gente! Que livro! Eu adoro scifi mas quase não leio; pretendo mudar isso esse ano e já anotei esse na lista.
    Beijos
    Balaio de Babados

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  19. Oi, Larissa, adoro ficção envolvendo guerra, portanto já anotei este livro como dica. Abraço, Leitora Viciada

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  20. Olá,
    Também não leio muito desse estilo, acho que preciso achar um ainda pra saber se curto.
    Quem escreve há bom tempo, acredito eu, deve ter um IT - A Coisa pra chamar de seu. hahaha
    Não sei se leria, apesar de ter ficado curiosa com alguns pontos. Mas jamais faria desfeita de um livro recebido no aniversário. haha

    A mente muda com o tempo, com as coisas novas que absorve e isso demora. Acho que a geração atual precisa compreender demais isso. Muito dessas coisas erradas de antigamente eram certas - aos olhos da época - e parte vem da criação né? Aprenderam levando lapada dos anos seguinte. Entao bacana o autor ter se desculpado.

    até mais,
    Canto Cultzíneo

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  21. Eu adoro esse gênero e to lendo mais dele ultimamente, eu achei a proposta do livro muito legal e com certeza já vai entrar pra minha lista!

    Beijo
    http://www.leiapop.com/

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  22. Oi, Lari!
    Eu também não tenho o costume de ler ficção científica, então entendo o que você quis dizer no final da sua resenha.
    Acho que é importante a gente tentar ler coisas diferentes vez ou outra, mas compreendo que é sempre mais difícil mergulhar nessas narrativas.

    Um beijo,
    Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
    Algumas Observações
    Projeto Escrita Criativa

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  23. Oi Larissa.
    Estou começando a ler mais do gênero esse tempo, longe das distopias e mais próximo de fantasias. Sinto que gostaria do livro, mesmo sendo uma leitura de altos e baixos.
    Beijos.
    Fantástica Ficção

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