RESENHA | "FAHRENHEIT 451" de Ray Bradbury

Foto: Acervo Pessoal - Parágrafo Cult

Editora: Biblioteca Azul |  Páginas: 215  |  Ano: 2012  |  Gênero: Ficção-científica, distopia

Sinopse: Imagine uma época em que os livros configuram uma ameaça ao sistema, uma sociedade onde eles são proibidos. Para exterminá-los, basta chamar os bombeiros - profissionais que outrora se dedicavam à extinção de incêndios, mas que agora são responsáveis pela manutenção da ordem, queimando publicações e impedindo que o conhecimento se dissemine como praga. Para coroar a alienação em que vive essa nova sociedade, as casas são dotadas de televisores que ocupam paredes inteiras de cômodos, e exibem "famílias" com as quais se pode dialogar, como se estas fossem de fato reais. Este é o cenário em que vive Guy Montag, bombeiro que atravessa séria crise ideológica. Sua esposa passa o dia entretida com seus "parentes televisivos", enquanto ele trabalha arduamente. Sua vida vazia é transformada quando conhece a vizinha Clarisse, ima adolescente que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo. O sumiço misterioso de Clarisse leva Montag a se rebelar contra a política estabelecida, e ele passa a esconder livros em sua própria casa. Denunciado por sua ousadia, é obrigado a mudar de tática e a buscar aliados na luta pela preservação do pensamento e da memória. 

Quem é fã de distopias, com toda a certeza já deve ter ouvido falar de Fahrenheit 451 que hoje é considerado um clássico literário e que ao lado de obras como Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e 1984 de George Orwell, figura como uma das maiores distopias já feitas e que mesmo nos dias de hoje, continua sendo bem atual.


Todo homem é demente quando pensa que pode enganar o governo e a nós.

Ray Bradbury construiu uma sociedade - Fahrenheit 451 - totalmente alienada. A leitura não é mais socialmente aceita e quem é pego escondendo livros de forma ilegal em sua casa, sofre as consequências de seu "crime". Guy Montag é um homem na casa dos trinta anos, casado e um bombeiro que gosta de seu trabalho. 


Ontem à noite eu pensei em todo o querosene que usei nos últimos dez anos. E pensei nos livros. E pela primeira vez percebi que havia um homem por trás de cada um dos livros. Um homem teve de concebê-los. Um homem teve de gastar muito tempo para colocá-los no papel. E isso nunca havia me passado pela cabeça.

Mas não se engane. Nesse futuro indefinido, as casas são à prova de fogo então bombeiros para apagarem chamas são totalmente desnecessários. Aqui eles são chamados para começarem incêndios. Sim, isso mesmo. Os livros são perigosos e por isso é de extrema urgência que sejam queimados, reduzidos a cinzas. 


Este é o lado bom de morrer; quando você não tem mais nada a perder, corre o risco que quiser.

Apesar da sensação de vazio, Montag gosta de seu trabalho, como diz no começo do livro "Queimar era um prazer". A ideia defendida por aquela sociedade era a de que os livros atrapalham na felicidade das pessoas, no seu bem-estar.  


Não se esqueça, pensou ele, queime-os ou eles o queimarão. No momento a coisa é simples assim.


Montag não é um cara mau. Veja bem, ele é fruto da sociedade em que se encontra inserido. Seus pensamentos e escolhas são moldados conforme o que ele vivera. Porém tudo muda quando ele conhece a sua vizinha Clarisse, uma adolescente que o ensina a ver o mundo de outra forma, completamente diferente dos padrões em que vivera. Curiosa, cheia de questionamentos e parecendo estar sempre nas nuvens, ela o leva a pensar sobre sua vida e a forma como tem vivido. O deixa curioso e ávido por conhecimento e por entender o motivo que faz o governo considerar a leitura um crime.

Meu deus, como isso aconteceu? - disse Montag - Numa noite está tudo bem e na seguinte estou me afogando. Quantas vezes um homem pode afundar e continuar vivo? Não consigo respirar. 

Estar acompanhado de Clarisse vai mudando Montag aos poucos. Ela é sua única companhia já que tem uma vida solitária. Sua esposa, Mildred, vive como uma refém de sua "família televisiva" e de pílulas para dormir. Quando Clarisse desaparece, o choque pelo sumiço da amiga o faz acordar e perceber a superficialidade e a forma falsa em que as pessoas estão vivendo. Para você ter uma ideia, suicídios aqui são vistos como algo comum e normal, uma nova guerra está prestes a se iniciar e as pessoas não só vivem em uma bolha de falsa felicidade como também se recusam a sair dela. 

Um livro é uma arma carregada na casa vizinha. Queime-o. Descarregue a arma. Façamos uma brecha no espírito do homem. Quem sabe quem poderia ser alvo do homem lido? Eu? Eu não tenho estômago para eles nem por um minuto. E assim, quando as casas finalmente se tornaram a prova de fogo, no mundo inteiro (...), já não havia mais a necessidade de bombeiros para os velhos fins. Eles receberam uma nova missão, a guarda de nossa paz de espírito, a eliminação do nosso compreensível e legítimo sentimento de inferioridade: censores, juízes e carrascos oficiais. Eis o nosso papel, Montag, o seu e o meu.

Um dos momentos mais chocantes para mim, foi ao notar que sim, o governo opressor transformou a vida dos cidadãos colocando a leitura como crime mas parar de ler foi uma escolha da própria população. Eles não foram forçados a nada. A aversão a leitura foi aos poucos se tornando uma realidade com a chegada das televisões, o Governo apenas terminou de acabar com tudo, não sendo o único culpado pela situação em que o povo se encontrava.

Montag ouvia a voz de Beatty. "Sente-se, Montag. Observe. Delicadamente, como as pétalas de uma flor. Acenda a primeira página, acenda a segunda página. Cada uma se torna uma borboleta preta. Linda, não é? Acenda a terceira página na segunda e assim por diante, fumaça em cadeia, capítulo a capítulo, todas as coisas estúpidas que as palavras significam, todas as falsas promessas, todas as noções de segunda mão e filosofias desgastadas pelo tempo.

Toda a obra se passa em um espaço de tempo relativamente pequeno e é dividida em três partes com uma leitura bem fluída, fácil de se entender. Montag está farto de todo o vazio das pessoas e sente que precisa agir. Claro, essa impulsividade o coloca em apuros mas também é o que precisava para que se movesse em direção a algo maior. 

Outro personagem bem interessante do livro é o Capitão Beatty, chefe dos bombeiros. Um cara extremamente inteligente e dono de grande parte dos melhores diálogos do livro. Em muitos momentos ele expõe de forma clara a forma como todos veem o perigo da leitura e das pessoas 'diferentes'. Muitas vezes usando argumentos de grandes autores para justificar o motivo de tais decisões do governo. 

Os que não constroem precisam queimar. Isso é tão antigo quanto a história e os delinquentes juvenis. 

Esse livro é um dos meus preferidos e mesmo sendo uma obra de 1953, seu tema é mais atual do que nunca, principalmente no momento em que estamos passando. É uma leitura rápida e simples, do tipo que dá para terminar em um dia, além de ser bem fácil de compreender. O final consegue ser realista e satisfatório. Leitura mais do que indicada. <3

Nota: 5,0 / 5,0

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19 Comentários

  1. Oi, Larissa como vai? Este clássico é sem dúvidas um dentre vários existentes um marco na literatura mundial. Assim como você, este que vos escreve tem em "Fahrenheit 451" um dos melhores livros clássicos que entram em meus favoritos. Sua resenha ficou perfeita, e mesmo sendo uma obra lançada a longínquo tempo, ela continua atualíssima. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Oi Larissa, tudo bem?
    Eu lembro de ter lido esse livro quando estava na escola. O título inclusive já foi a resposta de uma prova de física (algo sobre converter °F para °C, eu acho) a qual só acertei porque já tinha lido o livro. Não precisei nem fazer a questão.
    Não me lembro de quase nada do que li, por isso já coloquei na minha lista de leitura e assim que conseguir um exemplar irei ler. É uma história muito interessante e dá até medo por ser atual. Acho que não conseguiria viveria em um mundo onde os livros são proibidos não.

    Até mais;
    Mente Hipercriativa

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  3. Este livro é um clássico da ficção, que rendeu duas versões para o cinema. Uma tb clássica dirigida pelo francês François Truffaut e outra recente bem fraca por sinal.

    Abraço

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  4. Olá...
    Adorei sua resenha!
    Fiquei com muita vontade de ler esse livro, os fatores que compõe o enredo parece tornar a leitura sublime... Gostei bastante de seus comentários!
    Dica anotada!
    Bjo

    http://coisasdediane.blogspot.com/

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  5. Eu preciso muito ler esse livro. Já vi muitas indicações e meu marido vive me recomendando também. E se você gostou, eu provavelmente vou adorar.

    Beijos

    Imersão Literária

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  6. Amei sua resenha Larissa, esse não é um gênero que costumo ler, mas gostei da indicação. Estou gostando de sair da minha zona de conforto!

    https://www.kailagarcia.com

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  7. Oi Larissa.
    Eu li esse livro em minha adolescência, e lembro que na época fiquei com essa história na cabeça por muito tempo. Lendo sua resenha consegui me transportar novamente para a história e com certeza este é um tema bem atual e preocupante.
    Bjus

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  8. Oi Larissa!
    Esse é um livro que pra mim é meta de vida, preciso ler!
    Ele é de 1953 e continua super atual né?
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

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  9. Eu tenho muita vontade de ler e depois de ler a sua resenha, fiquei com vontade
    Adoro ler essas coisas que mesmo antigas ou passado antes ainda é muito atual para nós
    E cada quote um tapa
    ADOREI os quotes
    Beijocas da Pâm
    Blog Interrupted Dreamer

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  10. Sabe aquele tipo de livro que fica em nossa lista de leitura por anos a fio? Este é um deles. E olha que gosto de distopias.
    A metáfora em relação ao acesso ao conhecimento é perfeita. Mas, claro, de maneira factual, o futuro vem se mostrando com farta oferta de informação, ao contrário do futuro sombrio que nos é apresentado por RB.
    Cabe a nós, agora, o enfrentamento do paradoxo da escolha.
    Abraços.

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  11. Esse livro só me lembra de uma intervenção artística de estudantes de teatro que vi na minha faculdade! Eles usaram essa obra pra representar a morte dos livros e da leitura no mundo contemporâneo, muito bom ler a sua resenha e me remeter a este dia!!
    Beijoo

    http://primaveraagridoce.blogspot.com/

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  12. Oi Larissa.
    Esse livro foi a primeira distopia que eu li .Mas eu nem sabia que era distopia e muito menos que esse gênero
    existia ,o considerava meio ficção científica. E eu lembro que quando terminei pensei "Uau,gostei de um livro de ficção científica ".
    Hoje em dia que entendo mais da profundidade da obra ,acho que ia gostar mais ainda da leitura.

    Amei a resenha

    Beijos
    Mundinho quase perfeito

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  13. Olá! esse livro está na minha lista de leitura, estou ansiosa faz tempo para ler esse mas, ainda não tive a oportunidade de ler.
    Gostei muito da sua resenha.
    Beijocas.

    http://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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  14. Oi, Lari!
    Um clássico é um clássico, não é mesmo. Fico um tanto desesperada de pensar que essa ficção do livro está cada vez mais próxima da vida real, mas a denúncia também é um dos papeis da arte.

    Mais que necessária uma resenha como essa.

    Um beijo,
    Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
    Algumas Observações
    Projeto Escrita Criativa

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  15. Comprei esse livro em um sebo há alguns meses e estou ansiosa pra ler, to seguindo uma lista de leitura e já já é a vez dele. Eu adorei sua resenha e amo como esses clássicos são atemporais <3

    Beijo
    http://www.leiapop.com/

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  16. Olá!
    Eu amo esse livro, é um dos meus favoritos e recomendo para todo mundo.
    Beijão!
    Lumusiando

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  17. Oi Lari!
    Eu acho a premissa desse livro excelente. O lance de queimar a literatura intera me chamou atenção assim que bati os olhos. Mas acabei deixando pelo caminho. Achei a narrativa muito complicada de ler. Eu nao conseguia me conectar.

    Abraços
    Emerson
    http://territoriogeeknerd.blogspot.com/

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  18. Senhorita Larissa,Criei um Twitter.Segue o Link:

    twitter.com/opatodonald2

    Espero que Você Goste

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